Continuação da entrevista dada pelo professor Julio Groppa Aquino à Revista Carta Capital (edição 364).
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A escola às escuras I - em 28/02/2011
A escola às escuras II - em 02/03/2011
CC: A tragédia da criança que vai à escola e nem se alfabetiza direito deveria ser vista como a do doente que morre na fila? JG: É isso. Ela morre na fila, de véspera. Mas ninguém se escandaliza com essa aberração. Vamos criando um monte de justificativas para naturalizar esse desastre. E a educação brasileira segue, impávida, “matando seus pacientes”.
CC: O que houve depois da vaia?
JG: Fomos depostos. Caiu o secretário, mudou tudo, zerou de novo. Um clássico do amadorismo reinante. A secretária seguinte nem sequer sabia que tinha sido realizado esse trabalho, que proporcionou um extenso diagnóstico da educação municipal. O governo do PT na prefeitura de São Paulo foi um exemplo de como a gente sempre começa do zero. Foram três secretários de Educação. Formalmente, quatro, mas um deles ficou uma semana no cargo. Isso não significa que ter um secretário só é sempre bom. Veja quem é o responsável pela educação hoje na cidade: um médico, cirurgião. O que podemos esperar de alguém que, suspeito eu, entende muito pouco de educação básica? (O atual secretário da Educação do município de São Paulo é José Aristodemo Pinotti.)
CC: Segundo levantamento citado no livro A Escola Vista por Dentro, de Simon Schwartzman e João Batista Oliveira, 77% dos professores do ensino fundamental público culpam o desinteresse dos alunos pela alta repetência. Essa é uma das teorias que o senhor mencionou?
JG: Claro. É como dizer que o problema da saúde são as doenças, e o da Justiça, os delitos. “Se fôssemos um povo menos criminoso, a Justiça seria melhor. Se fôssemos mais interessados em educação ou, em outras palavras, menos ignorantes, a educação seria melhor.” É a lógica dos mitos. E esse talvez seja o maior deles: o de responsabilizar o alunado. Não faz o mínimo sentido, mas está generalizado não só entre os profissionais da educação, como também na opinião pública, que ratifica esses clichês, esses abusos cometidos contra os jovens.
CC: E em relação às particulares, também não falta cobrança?
JG: As escolas privadas são a cara da elite brasileira. Fazem parte do seu “pacote existencial”: academia, shopping, condomínio fechado, escola privada. Elas vendem aquilo que a elite quer: uma farsa com fachada de excelência. O processo de desinstitucionalização escolar, que na escola pública assume a forma de deserção, na escola privada confirma-se como fraude pedagógica. Não há o mínimo de supervisão, de controle. O ensino particular é um Velho Oeste. Tem jurisdição própria e transparência zero. E não há debate algum sobre isso. A escola privada, no Brasil, está acima de qualquer suspeita, como se seus resultados fossem sempre ótimos. E a imprensa em geral só faz alimentar a mistificação, como o ranking das melhores escolas privadas feito pela Veja em 2001. Em meados deste ano, a Folha de S.Paulo publicou um caderno especial intitulado Colégios, em que mostra o cotidiano das escolas campeãs do vestibular. E o que lá se vê? Hiperconcorrência entre os alunos, “baias” individuais, avaliação frenética, vigilância digital, exclusão sistemática dos “mais fracos”. Um dos destaques é o Colégio Objetivo, que pertence ao “barão” do modelo escolar vigente, o senhor (João Carlos) Di Genio. Não dá para acreditar que essas “corporações” espalhem impunemente seus horrores pedagógicos e que a imprensa seja servil a isso tudo. É preciso ter coragem para desmascarar esse estado lamentável das coisas na educação, seja particular, seja pública.
CC: O que houve depois da vaia?
JG: Fomos depostos. Caiu o secretário, mudou tudo, zerou de novo. Um clássico do amadorismo reinante. A secretária seguinte nem sequer sabia que tinha sido realizado esse trabalho, que proporcionou um extenso diagnóstico da educação municipal. O governo do PT na prefeitura de São Paulo foi um exemplo de como a gente sempre começa do zero. Foram três secretários de Educação. Formalmente, quatro, mas um deles ficou uma semana no cargo. Isso não significa que ter um secretário só é sempre bom. Veja quem é o responsável pela educação hoje na cidade: um médico, cirurgião. O que podemos esperar de alguém que, suspeito eu, entende muito pouco de educação básica? (O atual secretário da Educação do município de São Paulo é José Aristodemo Pinotti.)
CC: Segundo levantamento citado no livro A Escola Vista por Dentro, de Simon Schwartzman e João Batista Oliveira, 77% dos professores do ensino fundamental público culpam o desinteresse dos alunos pela alta repetência. Essa é uma das teorias que o senhor mencionou?
JG: Claro. É como dizer que o problema da saúde são as doenças, e o da Justiça, os delitos. “Se fôssemos um povo menos criminoso, a Justiça seria melhor. Se fôssemos mais interessados em educação ou, em outras palavras, menos ignorantes, a educação seria melhor.” É a lógica dos mitos. E esse talvez seja o maior deles: o de responsabilizar o alunado. Não faz o mínimo sentido, mas está generalizado não só entre os profissionais da educação, como também na opinião pública, que ratifica esses clichês, esses abusos cometidos contra os jovens.
CC: E em relação às particulares, também não falta cobrança?
JG: As escolas privadas são a cara da elite brasileira. Fazem parte do seu “pacote existencial”: academia, shopping, condomínio fechado, escola privada. Elas vendem aquilo que a elite quer: uma farsa com fachada de excelência. O processo de desinstitucionalização escolar, que na escola pública assume a forma de deserção, na escola privada confirma-se como fraude pedagógica. Não há o mínimo de supervisão, de controle. O ensino particular é um Velho Oeste. Tem jurisdição própria e transparência zero. E não há debate algum sobre isso. A escola privada, no Brasil, está acima de qualquer suspeita, como se seus resultados fossem sempre ótimos. E a imprensa em geral só faz alimentar a mistificação, como o ranking das melhores escolas privadas feito pela Veja em 2001. Em meados deste ano, a Folha de S.Paulo publicou um caderno especial intitulado Colégios, em que mostra o cotidiano das escolas campeãs do vestibular. E o que lá se vê? Hiperconcorrência entre os alunos, “baias” individuais, avaliação frenética, vigilância digital, exclusão sistemática dos “mais fracos”. Um dos destaques é o Colégio Objetivo, que pertence ao “barão” do modelo escolar vigente, o senhor (João Carlos) Di Genio. Não dá para acreditar que essas “corporações” espalhem impunemente seus horrores pedagógicos e que a imprensa seja servil a isso tudo. É preciso ter coragem para desmascarar esse estado lamentável das coisas na educação, seja particular, seja pública.
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