CC: Em termos de conteúdo não há diferenças? JG: As escolas são lugares abandonados do ponto de vista intelectual. Nisso a escola privada e a escola pública não têm diferença significativa. A estratégia do abandono dos alunos da escola pública tem a sua contrapartida na teatralização da escola privada. Em ambas, pouco de inteligente se constrói. Dialogamos muito pouco com a cultura acumulada, sempre recomeçamos do zero. Uma professora espanhola que esteve aqui fez uma síntese da diferença entre a cultura escolar brasileira e a européia. Ela disse que, ao fazer uma comemoração, eles escolheriam o lugar mais antigo, de maior significado histórico. Aqui, escolheríamos o mais novo, o da moda. Nada tem lastro, continuidade. E é a educação que deveria promover esse lastro. É preciso pensar a educação com maturidade. Ao contrário disso que está aí: por um lado, um discurso espontaneísta, desarticulado e infantilizado. Do outro, ações “pragmáticas”, norteadas pela idéia de que educar bem é assegurar vaga na universidade. Meus alunos chegam à USP e não sabem escrever, raramente lêem. Seriam reprovados num ditado.
CC: Para mudar isso, não seria preciso exigir o cumprimento de metas básicas, como a alfabetização dos alunos até uma certa idade?
JG: Sim, precisamos de pactos éticos, políticos, civis e profissionais. O que você chama de metas para mim são princípios que têm de ser comuns aos educadores, antes de tudo. Vou dar um exemplo. No início da gestão do PT na prefeitura de São Paulo (no governo de Marta Suplicy), eu participei de um levantamento. As 900 escolas municipais de ensino fundamental foram divididas em 13 regiões e eu fui o responsável por uma delas. Conversamos com alunos, professores e funcionários para saber o que estava acontecendo e, em seguida, propor ações. Qual foi o problema que se impôs antes da abordagem de questões pedagógicas estruturais? O absenteísmo docente. Isso precisa ser dito: não conheço uma única escola pública que conte, em apenas um dia do ano letivo, com todos os seus profissionais presentes. Com esse diagnóstico, fizemos uma reunião com todas as escolas e eu propus um pacto de cem dias sem faltas. Fui vaiado por praticamente todos que lá estavam. Veja que eu estava defendendo um princípio. Os alunos têm o direito de ser atendidos, e da melhor maneira possível. Se os mesmos índices de faltas acontecessem na saúde, os hospitais seriam incendiados. Este, aliás, é outro engano: diz-se que a saúde e a educação do País vão mal. Mas não dá para comparar. A saúde funciona infinitamente melhor do que a educação. Se médicos ou enfermeiros faltam, a cobrança é mil vezes maior. É só um exemplo de um princípio essencial, o do atendimento sistemático. Na rede pública de educação, esse pacto nós já rompemos há muito tempo. Perdemos por WO.
CC: Para mudar isso, não seria preciso exigir o cumprimento de metas básicas, como a alfabetização dos alunos até uma certa idade?
JG: Sim, precisamos de pactos éticos, políticos, civis e profissionais. O que você chama de metas para mim são princípios que têm de ser comuns aos educadores, antes de tudo. Vou dar um exemplo. No início da gestão do PT na prefeitura de São Paulo (no governo de Marta Suplicy), eu participei de um levantamento. As 900 escolas municipais de ensino fundamental foram divididas em 13 regiões e eu fui o responsável por uma delas. Conversamos com alunos, professores e funcionários para saber o que estava acontecendo e, em seguida, propor ações. Qual foi o problema que se impôs antes da abordagem de questões pedagógicas estruturais? O absenteísmo docente. Isso precisa ser dito: não conheço uma única escola pública que conte, em apenas um dia do ano letivo, com todos os seus profissionais presentes. Com esse diagnóstico, fizemos uma reunião com todas as escolas e eu propus um pacto de cem dias sem faltas. Fui vaiado por praticamente todos que lá estavam. Veja que eu estava defendendo um princípio. Os alunos têm o direito de ser atendidos, e da melhor maneira possível. Se os mesmos índices de faltas acontecessem na saúde, os hospitais seriam incendiados. Este, aliás, é outro engano: diz-se que a saúde e a educação do País vão mal. Mas não dá para comparar. A saúde funciona infinitamente melhor do que a educação. Se médicos ou enfermeiros faltam, a cobrança é mil vezes maior. É só um exemplo de um princípio essencial, o do atendimento sistemático. Na rede pública de educação, esse pacto nós já rompemos há muito tempo. Perdemos por WO.
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