No texto ele conta a história do aluno Jessé.
Sabemos que há muitos outros "Jessés" se empenhando, se dedicando e visualisando um futuro diferente daquele que parece ter sido traçado pelo destino.
Mirtes
As pequenas alegrias e nosso idealismo
No início da minha carreira no magistério paulista havia muita empolgação, sobretudo porque as aulas de História, Folclore e Sociologia do Turismo eram para alunos motivados pelo investimento do governo estadual no curso Técnico de Turismo (na escola Aurelina, no bairro da Estufa II). Depois percebi que o meu idealismo dependia de uma série de fatores, inclusive econômico, mas o principal deles era o querer aprender dos alunos. Nisso usei – e uso ainda! – o argumento de que “a geração vindoura tem que ser melhor do que a minha”. E, admito, tenho visto despontar alguns frutos dessa direção. Minhas sobrinhas orgulham-me muito pelo fato de sempre terem estudado na escola pública e de terem sido aprovadas em universidade pública (USP). Vários outros ex-alunos causam-me igual sentimento. Agora é a vez de Jessé.
Conheci Jessé na escola Sueli (bairro da Estufa I), numa turma média na cooperação, mas aquém da média em aproveitamento nos estudos. O motivo principal era a preguiça de ler e a falta de perspectiva além dessa madorna que está entre a serra e o mar, neste pedaço de chão chamado de Ubatuba. Afinal, a quase totalidade deles descendia de migrantes da base da construção civil. Os poucos caiçaras da turma nunca demonstraram entender muito sobre os desafios que hoje se apresentam à cultura local. Porém, logo Jessé despontou como aluno exemplar, desejoso de aprender – e bem! Em diversas ocasiões apresentou trabalhos e fez questões pertinentes. Também chamava a atenção dos colegas que teimavam em atrapalhar as aulas porque sonhava em cursar um ensino superior de qualidade.
Em 2010, ao iniciar o último ano do Ensino Médio, Jessé, sabendo que podia potencializar ainda mais a própria aprendizagem, procurou uma escola particular (MV) onde sabia que haveria mais exigências e novos desafios para ele. Após contar a sua história, a diretora concedeu-lhe uma bolsa de estudo integral. Não se arrependeu!
Agora, em uma turma interessada e acolhedora, Jessé cresceu. Colaborou com o aproveitamento geral da classe. Encerrou o ensino básico com “chave de ouro”: foi aprovado em todas as universidades públicas em que concorreu. Ouso dizer que foi o aluno de melhor desempenho no município na última temporada de vestibulares. Dele não se podia esperar outra coisa. Em todos os momentos estava lendo, tirando dúvidas, fazendo exercícios em grupo etc. De vez em quando ainda arranjava tempo para dedilhar seu violão.
Concluindo: Jessé já era bom desde a escola pública (isso prova que os professores estão fazendo a sua parte, mesmo vivendo uma fase crítica há tempos), mas ter encontrado um ano puxado na reta final foi de muita valia para os resultados alcançados. Foi como uma alavanca. Parabéns a este filho do Vale do Jequitinhonha que veio se instalar no bairro do Rio Escuro! Certamente ainda teremos muito outros motivos para nos orgulhar deste estudante. Nós, professores idealistas, precisamos de mais exemplos assim! Valeu, menino!!!
Nossa, toda vez que falo ou ouço do Jesse eu choro... Porque é mesmo emocionante.
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