quarta-feira, 15 de maio de 2013

"Não dê dinheiro aos ricos"

Estou muito assustada com a proliferação de artigos e postagens nas redes sociais de pensamentos extremamente reacionários. Alguns chegam a afirmar que o Brasil está à beira de um ataque terrorista/comunista. Confesso que há muito tempo não via um discurso tão voraz contra um determinado grupo no poder, talvez o último bastião de um discurso tão conservador foi em 1964. Será que essas pessoas não entenderam que a Guerra Fria já acabou há muito tempo? Que não há grupos comunistas cubanos sendo infiltrados pelo governo petista para tomar o poder? Que isso é uma fala de quem não tem argumentos sólidos para criticar?  
Muitas pessoas aceitam tudo o que leem na VEJA, ÉPOCA, ou o que ouvem no Jornal Nacional como se fossem verdades incontestáveis, não refletem sobre o que  pode estar por trás dessa ou daquela matéria. Ao ler um artigo numa revista, não se preocupam em pesquisar quem é o autor do mesmo, ler sua biografia, pois é obvio que um artigo escrito pelo presidente de uma multinacional de produtos agrícolas, terá um ponto de vista bem diferente do artigo que  for escrito por um pequeno produtor rural. É só pensar um pouco!
A crítica é importante! A crítica, quando pautada em argumentos sólidos e confiáveis, é sempre bem vinda. A divergência é necessária para que haja crescimento, amadurecimento de todas as partes.
Não pertenço a nenhum partido político, não sou fanática ou extremista ao só ver pontos positivos nesse ou naquele partido em detrimento de outros. Talvez, no auge de minha juventude , cursando a faculdade de História, cheguei a ser assim. Com o passar dos anos, vem o amadurecimento e mais clareza nas ideias e hoje sei que nenhum fanatismo ou extremismo pode ser positivo. 
Portanto, essa minha postagem, bem como a resposta à carta de D.Martha "Brasil carinhoso, sim!" são para defender uma política pública que vejo como necessária para a construção de um país mais justo e para ajudar no debate sobre a necessidade de maior reflexão antes de postar nas redes sociais. 
O artigo "Não dê dinheiro aos Ricos. Isso os torna vagabundos" foi escrito pelo jornalista e doutor em Ciência Política Leonardo Sakamoto e publicado no seu blog. 
Um abraço a todos e boa leitura!

Mirtes





Atenção: não dê dinheiro aos ricos. Isso os torna vagabundos


Leonardo Sakamoto - 10/05/2013 - Blog do Sakamoto 






Vou voltar a um tema que eu adoro. Considerando que a renda do capital segue estratosfericamente maior que a do trabalho e os recursos usados para o pagamento de juros são bem maiores que os aplicados em programas sociais (em todos os governos, de FHC a Dilma), fico extremamente incomodado quando ouço ou leio pessoas reclamando que “dar dinheiro aos pobres os torna vagabundos”.
É engraçado que ninguém reclama do dinheiro que vai às classes mais abastadas, que investem em fundos baseados na dívida pública federal. Grosso modo, muito vai para poucos e pouco vai para muitos. E, mesmo assim, sou obrigado a ouvir pérolas quase que diariamente, reclamando dos programas de transferência de renda, não no sentido de melhorá-los, mas de extingui-los. É claro que é importante avançar na construção de “portas de saídas” para programas como o Bolsa-Família, gerando autonomia econômica. Mas a raiva com a qual essas iniciativas ainda vêm sendo tratadas por algumas pessoas me surpreende. Pessoal, supera! Não há partido político que vá se eleger com uma plataforma que cancele esses processos de transferência de renda. Isso já é política de Estado e não de governo.
“Ah, mas minha tia tem uma amiga em que a empregada recebe o bolsa-família e, por isso, desistiu de trabalhar. Quer ficar no bem bom com o dinheiro público.” Quantos já ouviram coisas assim? Primeiro reduzindo todo um programa a uma única história. Segundo, uma história mal contada, pois é difícil imaginar que uma família consiga sobreviver com dignidade com um montante de renda não raro menor que uma garrafa de vinho paga pelo sujeito fino que decretou tal preconceito. Terceiro, para alguém preferir a segurança da mensalidade do programa do que um salário é que a remuneração deve ser baixa demais ou a garantia de permanência no emprego inexistente.
Este post não está criticando ou elogiando ninguém, mas tentando entender o que, além do preconceito, faz com que um cidadão que tenha um pouco mais na conta bancária acredite que pisar no andar de baixo é a solução para galgar ao andar de cima? E crer que o futuro de um país é feito uma Arca de Noé, com espaço para salvar pouca gente de um dilúvio iminente?
Para esse pessoal, é cada um por si e o Sobrenatural – proporcionalmente ao tamanho do dízimo deixado mensalmente – para todos. Fraternidade e solidariedade são palavras que significam “doação de calças velhas para vítimas de enchente”, “brinquedos usados repassados a orfanatos no Natal” ou “um DOC  limpa-consciência feito a alguma ONG”.
Nada sobre um esforço coletivo de buscar a dignidade para todos, com distribuição imediata (e não depois que o bolo crescer) da riqueza gerada no país. Crescimento produzido pelos mesmos trabalhadores que não desfrutam da maior parte de seus resultados. Porque, apenas teoricamente, todos nascem livres e iguais.
E se eu dissesse que “dar dinheiro aos ricos os torna vagabundos?” Por que usar a frase para os pobres é ser um “analista sensato da realidade” e usar a frase aos ricos é ser um “canalha de um comunista safado”?

Leonardo Sakamoto  -   10/05/2013 


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