Todos nós professores já presenciamos cenas em que o bom aluno, aquele que cumpre com suas obrigações, que está atrás de um objetivo acadêmico, sofre com as "brincadeiras" e é excluído pela turma. Vivemos uma grande inversão de valores e no texto a seguir o colega Maurício Mungioli (In Memoriam) faz um desabafo após uma aula muito difícil.
Vale a pena a leitura!

SOBRE SER CDF OU “NERD”
Por Mauricio
Mungioli (In Memoriam)
Por que a inteligência está tão
em desuso hoje em dia?
Me incomoda, e muito, a
indigência intelectual que, ao meu ver, se tornou norma e, puxa vida, motivo de
orgulho de tanta gente ou pelo menos de muitas, dentro do mundinho que eu vivo
aqui no dia-a-dia, no trocado.
Não! Nem pense de antemão que vou
falar sobre cultura de massa, TV, games, e subprodutos dos mesmos. O papo aqui
é gratuito e no varejo. No varejo, mas bem mercadinho; delimitado. Eu estou
pensando nos CDFs do meu tempo e que hoje são chamados, porca miséria, de
“nerds”. Tive amigos CDFs na escola e, inclusive, fazia trabalhos e mantinha
vínculos com eles. Quem sabe eu era um deles? Um CDF enrustido, ou quase isso?
Depois eu explico...
Nós nos dávamos bem com eles,
conversávamos sem esquisitices ou algo mais. Erámos integrados e, em geral,
todos bem-vindos e queridos no grupo. Tempo que passa e o CDF hoje é “nerd”. Na
mudança do termo, um tratado ou mil teses sobre o processo de aculturação e idiotia
pelo qual passamos. Ah, novamente deixo isso de lado para não fugir muito do
que me incomoda e assim - dá-lhe ego, do que quero dizer!
Certo dia, em sala-de-aula, eu
como professor presenciei o linchamento de um aluno, que, aliás, nem estava em
sala-de-aula naquele dia. O motivo? O simples fato de ele ser um aluno
inteligente e estudioso. Aluno focado. Sabe? O desdém partia especialmente de
uma aluna e encontrava eco na afirmação de alguns e no silêncio dos demais.
Rótulo. “Aquele nerd” - dizia a menina
de boca cheia, a ponto de vomitar, “é insuportável!”.
Ora, aquele nerd, execrado, era um menino de 13 anos nem feio nem bonito,
questionador, lido, que gostava de música, tocava violão, e que quando queria,
sabia ser simpático com os outros como qualquer um. Mas coitado, era estudioso,
e repetindo a linguagem corriqueira: “focado”.
Claro que me posicionei e conduzi
o papo - meio que esclarecendo, meio que amortecendo. Até porque ele não estava
lá para se defender. Mas isso não interessa, ao menos agora.
Pois bem, o menino hoje tem 19
anos, faz direito na USP, domina pelo menos 3 idiomas e pensa em ir para o
Japão, para o desespero da mãe e da avó. Elas fazem orações para que ele não
consiga vaga em uma universidade tão distante. É, né! Mãe é bicho esquisito
mesmo... Ele sabe o que quer e nem pensa
em colocar isso em jogo, é feliz com ele e com a vida. Quanto ao grupo do
linchamento, acompanhei e mantive contato com eles até hoje, pelo menos com a
maioria. E da mesma maneira, seguem suas vidas. Mais ou menos envolvidos em
dúvidas, mais ou menos presos aos seus dilemas. Mais ou menos. Alguns fazem
faculdades mais ou menos, alguns mais ou menos não sabem o que querem, alguns
não sabem o que fazer na nossa cidadezinha, pois mais ou menos, estão
paralisados aqui.
Mais ou menos são felizes, mais ou menos fazem
planos.
Maurício
Mauricio fantástico como sempre !!!
ResponderExcluirSem duvida esse é um homem que faz falta a sociedade
Pois é Marco Aurélio,
ExcluirEle deixou muita coisa boa, textos, estudos...
E como você disse "fantástico como sempre"!
Abraços
Depois de uma aula muito difícil, o Mau ficou indignado. E guardou a indignação até que o tempo deixasse aparecer os resultados. Daí ele escreveu... O bom é que ele conseguiu deixar a voz, quem lê e o conheceu percebe. E o tema é ainda atual, infelizmente. E então também concordo: "fantástico, como sempre!"
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