sexta-feira, 22 de abril de 2011

Paulo Freire Caluniado - Jornalismo Panfletário

Observatório da Imprensa
Por Gabriel Perissé em 22/2/2011

O furor com que Reinaldo Azevedo escreve para atacar o tempo todo os mesmos alvos de sempre (Lula, PT, Dilma...) lança-o no jornalismo panfletário, carente de credibilidade. Em seu blog, "um dos mais acessados do Brasil", segundo a revista Veja, que o abriga, Tio Rei, com certa frequência, dá opiniões e palpites sobre a educação nacional.
Num dos seus recentes rompantes, ao comentar uma equivocada avaliação realizada por um professor da rede estadual, em Santos (SP) – ver a matéria no Jornal da Tarde "Professor usava crime para dar exemplo em aula" (18/0) –, relacionou o equívoco do professor ao pensamento de Paulo Freire.

Inimigo imaginário

Transcrevo trecho do seu post de 19/02:
"Uma das cascatas mais vigaristas e influentes da educação reza que o `educador´ deve respeitar o `universo do educando´, usando elementos do seu cotidiano para, a partir daí, fazer uma reflexão política. É coisa de esquerdopata, é óbvio. Seu maior teórico foi Paulo Freire, secretário da educação de Luíza Erundina na prefeitura de São Paulo e homem que introduziu em São Paulo o que ficou conhecido como `progressão continuada´ – sim, é obra do PT!
Eis aí... Se o professor não é só um vapor barato do narcotráfico ou maluco, então tem na cabeça um monte dessas titicas paulo-freirianas."

Afirmar que algo é óbvio, sem vislumbrar nuances ou fazer ressalvas, reflete, em geral, desconhecimento do assunto. A vontade de agredir supera o dever da ponderação. O professor é chamado de esquerdopata, cheio de "titicas paulo-freirianas" na cabeça... Reinaldo Azevedo estabelece que o método de ensino inspirado em Paulo Freire levaria à apologia do crime. Tenta induzir seu leitor a pensar que, pela lógica freiriana, na hipótese de o crime fazer parte do cotidiano dos alunos, os professores deveriam assumir essa realidade como algo natural.

O desejo de atacar leva o articulista a deformar seu inimigo imaginário. Certamente, podemos e devemos questionar Paulo Freire. Faz parte da dinâmica freiriana não idolatrar Paulo Freire. Mas que o questionamento seja feito com conhecimento de causa.

Que os leitores de Reinaldo Azevedo leiam o próprio educador Paulo Freire. Ou obras esclarecedoras como o Dicionário Paulo Freire (Autêntica Editora, 2008). Neste dicionário, o verbete sobre o saber do educando explica que respeitar tal saber não significa idealizá-lo. Com ele dialogamos. Somente problematizando o saber das classes populares, realizaremos o ato educativo.


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