O mesmo tema, abordagens diferentes Por José Alexandre Silva em 26/4/2011 | |
Em artigo publicado neste Observatório, já analisamos uma edição do programa Profissão Repórter, 07/12/2010, cuja temática era violência nas escolas. Nesse texto, chegamos à conclusão que o programa deixou uma mensagem de culpabilização dos professores pelas mazelas da profissão. Em conversa com um colega sobre o mesmo programa, constamos que na mesma data os telejornais da Rede Globo também trouxeram notícias sobre a educação por conta da divulgação dos resultados do Pisa. No caso do Bom Dia Brasil, são apresentados os números do avanço insignificante tido pelo Brasil em relação a seu próprio desempenho em versões anteriores do Pisa. A reportagem é seguida por um comentário de Míriam Leitão. Da fala da jornalista destacamos o seguinte trecho: Vemos que o comentário acentua a responsabilidade do professor no despertar o interesse dos alunos, um posicionamento até razoável. Mas trata a questão sem qualquer problematização das causas do desânimo dos docentes. Na sequência, vemos formulações genéricas postas como verdades incontestáveis, mas que não explicam nem propõem nada. O que temos fazer para superar o mencionado "grande desafio"? Ou então, qual foi o trajeto que nos trouxe a esse ponto? Perguntas sem respostas. No Jornal Hoje, vemos uma mera exposição dos dados: o Brasil está entre as três nações que mais evoluíram na educação, nos últimos nove anos. Mesmo assim, aparece em quinquagésimo terceiro lugar. Países que mais evoluíram: Luxemburgo: 38 pontos Chile: 37 Brasil: 33 A média brasileira foi de 401 pontos. A média geral dos 65 países do Pisa chegou a 496. Brasil: 53º lugar Média: 401 pontos Pisa: 65 países - Média geral: 496 pontos. China, Hong Kong e Finlândia tiraram as melhores notas. 1º China (Xangai): 577 pontos 2º Hong Kong: 546 3º Finlândia: 543 Na América Latina, o Brasil aparece em quarto lugar, atrás do Chile, Uruguai e México. 1º Chile: 439 pontos 2° Uruguai: 427 3º México: 420 4º Brasil: 401 Sem comentaristas e sem nenhuma palavra dos âncoras para explicar o lento avanço, ou até mesmo nosso fracasso. O que se vê são apenas os dados de forma comparada com os países com melhor pontuação e até alguns vizinhos de continente. Impera a noção segundo a qual os números falam por si só ou se bastam. Educação nunca foi prioridade No Jornal da Globo, temos uma apresentação dos dados também com a noção de que o Brasil avançou, porém menos do que devia. A reportagem é mais opinativa e merece destaque a fala do ministro Fernando Haddad, segundo o qual os grandes desafios do país são a formação dos professores e sua valorização. O economista Cláudio de Moura e Castro também menciona os baixos salários e o fato de as escolas se constituírem em um ambiente de trabalho pouco atraente. Em seguida à reportagem, vem o comentário de Arnaldo Jabor. Para o comentarista, a situação educacional do país remonta à formação colonial, na qual o governo colonial português não fez a mínima questão de incentivar a educação. Pelo contrário: proibiu a impressão de livros e dificultava ao máximo a circulação de conhecimento. O resultado dessa concepção vem desembocar nos dias de hoje, com a pontuação baixa do país numa avaliação internacional, um país que em nenhum momento a educação da população foi prioridade. Seria de se estranhar se o Brasil fosse dono de um desempenho satisfatório no Pisa. Educação nunca foi nossa prioridade, nem no período colonial, nem depois da independência. O curioso é que o único telejornal que abordou as reais causas do problema educacional brasileiro é veiculado num horário em que a maioria da população está dormindo. Fonte: http://www.observatoriodaimpresa.com.br/ |
sábado, 30 de abril de 2011
Mídia e Educação - observatório da imprensa
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