Como a entrevista é grande vou postá-la no blog por etapas. Os grifos são meus...
Leiam, reflitam e comentem...
Mirtes.
Edição 364 - Revista Carta Capital
A ESCOLA ÀS ESCURAS
por Flavio Lobo
É preciso ter coragem para desmascarar esse estado lamentável das coisas na educação, seja particular, seja pública.” O educador Julio Roberto Groppa Aquino não fica apenas na convocação: sua análise sobre a escola brasileira é demolidora. Governo, empresários do setor, pais, professores, mídia especializada… Exceto pelos maiores interessados, e prejudicados, as crianças e adolescentes, nenhum grupo envolvido no processo é poupado. Aos 42 anos, Groppa assegura que, desde que começou a trabalhar com educação, há duas décadas, só viu a situação piorar.
Professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, com doutorado feito na própria USP e pós-doutorado pela Universidade de Barcelona, Groppa é autor de quatro livros sobre o cotidiano escolar e co-autor de vários outros, entre os quais Em Defesa da Escola (Papirus, 2004). Além da docência na universidade, lecionou no ensino básico e hoje assina a coluna Quadro Negro, na revista Educação.
Nesta entrevista, Julio Groppa expõe o que considera a escuridão reinante no quadro escolar brasileiro. E não se furta a nomear alguns dos protagonistas do “desastre” educacional do País, resultante da manutenção de “mitos”, de palavras de ordem vazias, descaso, farsa e abandono.
CartaCapital: Quais são os maiores mitos em torno da escola brasileira?
Julio Groppa: O maior deles é o de que a educação seria o grande instrumento de ascensão social. Acredita-se nisso há séculos. A idéia de que a educação faz a diferença é a base do pensamento moderno. A ciência, a tecnologia, o progresso, tudo isso tem a ver com a idéia de educação como pilar. Tanto a esquerda quanto a direita repetem que a educação dos pobres melhora a vida deles próprios e do País. Parece-me um mito já de largada, porque a gente não vê isso acontecer concretamente aqui. O grande potencial de transformação social da educação, seu papel fundamental para uma melhor distribuição de oportunidades e renda, que ela desempenha em outros lugares, no Brasil não se realiza. A escola brasileira é cuspida e escarrada a realidade brasileira, com todas as suas injustiças. E não se trata de ela reproduzir a realidade brasileira: ela é a realidade brasileira. Há um mito de que existem ilhas escolares que são o luxo, associadas às escolas privadas, e, em volta, um grande aterro sanitário público onde depositamos as crianças pobres – porque, a rigor, as escolas se transformaram em lugares onde jogamos as crianças e depois de oito anos fazemos testes para ver no que deu. Só poderia mesmo dar nesse desastre que é a educação pública brasileira.
Professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, com doutorado feito na própria USP e pós-doutorado pela Universidade de Barcelona, Groppa é autor de quatro livros sobre o cotidiano escolar e co-autor de vários outros, entre os quais Em Defesa da Escola (Papirus, 2004). Além da docência na universidade, lecionou no ensino básico e hoje assina a coluna Quadro Negro, na revista Educação.
Nesta entrevista, Julio Groppa expõe o que considera a escuridão reinante no quadro escolar brasileiro. E não se furta a nomear alguns dos protagonistas do “desastre” educacional do País, resultante da manutenção de “mitos”, de palavras de ordem vazias, descaso, farsa e abandono.
CartaCapital: Quais são os maiores mitos em torno da escola brasileira?
Julio Groppa: O maior deles é o de que a educação seria o grande instrumento de ascensão social. Acredita-se nisso há séculos. A idéia de que a educação faz a diferença é a base do pensamento moderno. A ciência, a tecnologia, o progresso, tudo isso tem a ver com a idéia de educação como pilar. Tanto a esquerda quanto a direita repetem que a educação dos pobres melhora a vida deles próprios e do País. Parece-me um mito já de largada, porque a gente não vê isso acontecer concretamente aqui. O grande potencial de transformação social da educação, seu papel fundamental para uma melhor distribuição de oportunidades e renda, que ela desempenha em outros lugares, no Brasil não se realiza. A escola brasileira é cuspida e escarrada a realidade brasileira, com todas as suas injustiças. E não se trata de ela reproduzir a realidade brasileira: ela é a realidade brasileira. Há um mito de que existem ilhas escolares que são o luxo, associadas às escolas privadas, e, em volta, um grande aterro sanitário público onde depositamos as crianças pobres – porque, a rigor, as escolas se transformaram em lugares onde jogamos as crianças e depois de oito anos fazemos testes para ver no que deu. Só poderia mesmo dar nesse desastre que é a educação pública brasileira.
CC: Mas a idéia de que existem oásis de “luxo” educacional faz sentido? JG: Não. As escolas privadas transformaram-se em lugares de mero adestramento intelectual. Não há uma vírgula de diferença entre escolas de proposta x ou y. Em geral, todo o trabalho sustenta-se na idéia de transposição da informação enciclopédica que cai no vestibular. As escolas privadas tornaram-se treinadoras de prestadores de vestibular. E a expressão máxima disso são os cursinhos, essa excrescência da educação brasileira, cujos profissionais gozam, indevidamente, da fama de serem os melhores professores. Os cursinhos são tão-somente uma caricatura da escola privada. Ensinam o quê? A passar em vestibulares, que cada vez mais vão se sofisticando conforme o objetivo de excluir a grande massa da universidade pública.
- Esta entrevista continua num próximo post...
Pois é, concordo com tudo, especialmente com a parte onde ele diz: “A escola brasileira é cuspida e escarrada a realidade brasileira, com todas as suas injustiças. E não se trata de ela reproduzir a realidade brasileira: ela é a realidade brasileira.”
ResponderExcluirBrasil não está nem engatinhando, ainda rasteja em tudo que se refere à educação. Tudo o que ele diz é verdade: a educação pública é uma bosta, a educação privada também, e o cursinho é o cúmulo de tudo. Coisas discutidas reiteradamente na mesa de casa com uma garrafa de vinho. E o que fizemos, colega? Mudanças pontuais, que foram muitas, e que continuamos fazendo. Mas que não são suficientes. Só a pressão popular pode resultar em mudanças, e pressão popular só acontece quando a população adquire consciência. Então, continuamos num “ciclo-vicioso e viciado”, de tentar continuar fazendo mudanças pontuais que impliquem numa aquisição de consciência...
E esse "ciclo vicioso e viciado" nos faz sentir impotentes...como e quando vai haver a tal pressao popular? Quando vai haver a tal consciencia?
ResponderExcluirTambem fico angustiada com essa falta de luz no fim do tunel....