quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Dúvidas, dúvidas e mais dúvidas

Dúvidas, dúvidas e mais dúvidas

Quais as chances de um aluno da escola pública entrar nas melhores universidades do país?
Pequenas! Mas, não impossíveis. Todos os anos nos deparamos com notícias de ex-alunos que entraram nas universidades públicas. E que estão se saindo muito bem! Com certeza esses alunos se empenharam, se dedicaram e agora colhem os frutos desse esforço.
Mas também sabemos que eles foram, muitas vezes, rechaçados pelos colegas numa inversão de valores como nunca se viu. Entre grande parte dos adolescentes, o aluno dedicado e que quer estudar é considerado “bobo”, “cdf”, “nerd”  etc.  São vítimas em potencial do “bulling” escolar.
Na rede estadual de ensino de São Paulo temos excelentes professores, que podem fazer uma trabalho diferenciado e ajudar a dar um novo rumo à vida dessa garotada. Mas onde está o problema?
Essa é uma questão muito complexa, pois vários fatores influenciam na qualidade do ensino. Só para citar alguns problemas posso falar da desmotivação profissional, das salas super lotadas, da falta de uma organização escolar que propicie um ambiente ideal para o desenvolvimento das aprendizagens etc., etc. etc. Na verdade são muitos os fatores, mas hoje quero me deter a um problema que enfrentamos nas escolas : aqueles alunos que não querem aprender.
Apesar das teorias pedagógicas virem com mil idéias bonitas a respeito da educação e da ação dos professores que devem estimular a vontade de aprender nos alunos, que os professores devem “aprender a aprender, para poder ensinar a aprender”, todos aqueles que estão em sala de aula e não nos bancos acadêmicos desenvolvendo teorias, sabem que a realidade é muito mais difícil do que parece nas teorias pedagógicas. Temos alunos que não querem aprender, isso é fato!!! Não adianta novas tecnologias, novas abordagens, não adianta malabarismos que o professor possa inventar, simplesmente eles não querem. Os motivos dessa falta de interesse também são complexos e merecem reflexão de toda sociedade. Mas, nesse texto não vou discorrer sobre isso, pois a idéia é falar dessa dificuldade que nós professores enfrentamos no nosso cotidiano.
Esses alunos são aqueles que atrapalham o desenvolvimento das atividades e conseqüentemente atrapalham aqueles alunos que querem aprender. Como lidar com isso? Como não ser conivente com essa situação e acabar prejudicando aqueles que poderiam ser os futuros alunos da USP, Unicamp etc.?
Falamos muito em direitos e, é lógico, que isso é bom e representa um avanço num país como o nosso, mas também pode ser um retrocesso no momento em que não trabalhamos a idéia de dever. O aluno não pode ter o direito de atrapalhar as aulas, de ofender colegas, de não deixar o colega estudar, de não deixar o professor exercer sua profissão com dignidade. Onde ficam os direitos do bom estudante? Do professor? Dos alunos que querem participar e receber uma educação de qualidade?
Está na hora de repensarmos nosso país. Com a democratização do Brasil após o  fim da ditadura militar, ocorreram inúmeros debates e muito se avançou na área de direitos humanos, de direitos da Criança e do Adolescente, de combate ao racismo, combate aos preconceitos etc. Tudo muito positivo, porém, parece que esquecemos da contrapartida: o direito de um termina onde começa o direito do outro.
É obvio que essa questão é difícil de ser equacionada.  E por isso, sempre me questiono:  Que país estamos construindo? O que esperamos do futuro dessas gerações que passam por nós? O que estou fazendo no sentido de ajudar a construir um país melhor? Será que me tornei apenas mais uma peça da engrenagem do sistema e me alienei? Será que estou colaborando para perpetuar as injustiças?
Percebo que mais tenho dúvidas do que respostas. Dúvidas, dúvidas e mais dúvidas. 

Mirtes.

Um comentário:

  1. Ótimo post professora. Parabéns. Vejo como base os 3 anos no Deolindo, com excelentes professores e aulas, porém alunos que não só não queriam estudar como atrapalhavam a aula. Os pais deveriam refletir sobre o filho que tem antes de matricular na escola pública, mas hoje é assim: meu filho na escola dane-se o resto, atrapalhando ou não quero ele na escola. Até mais...

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