sábado, 15 de outubro de 2011

A pedagogia da cerveja na mídia conivente

Brinde ao Brasil
Por Gabriel Perissé em 20/06/2006 na edição 386
A função pedagógica da mídia se materializa em imagens, textos e sons que influenciam mentes e comportamentos. Influência sutil, que será relativizada ou reforçada por parentes, amigos, professores, líderes culturais e religiosos, colegas no trabalho etc.
A pedagogia da cerveja está no ar. Carnaval, Copa do Mundo, feriados ou simples fins de semana (que começam na quinta-feira...), tudo é ocasião para uma "cerva", a bebida mais consumida por adolescentes e jovens brasileiros, porta aberta para outras experiências de vertigem. Não faz muito tempo, a Rádio Jovem Pan teve a coragem de navegar contra a corrente, divulgando o depoimento de um rapaz que começou a tomar cerveja aos 11 anos e depois foi para a maconha, a cocaína e o ecstasy.
Os jovens se sentem invulneráveis. Seu fígado é de aço. E os sucos não têm o mesmo valor "nutritivo" da cerveja estupidamente gelada. A bebida alcoólica como sinal de que a criança entrou para o mundo dos adultos. Leite então, nem pensar! No Brasil, consome-se mais álcool per capita do que leite. A cerveja tem pouco teor alcoólico e por isso é consumida em maior quantidade do que outros tipos de bebida. Desce redonda, fácil, tranqüila. Vai envolvendo aos poucos, sedutora.
Os bares próximos a faculdades e escolas deveriam, pelo menos, pedir a carteira de identidade, e vender apenas refrigerantes aos menores de 18 anos. Mas vem o colega mais velho e compra cerveja para a galera. Um brinde ao Brasil!
Respeito ao touro
A pedagogia da cerveja que a mídia veicula deveria ser criticada pela mídia não-alienante. A falta da crítica se chama conivência. Moralismo não, basta informação: os danos cerebrais causados pelo álcool ingerido desde a adolescência, o déficit de memória, riscos no trânsito, riscos de uma vida sexual desregrada geralmente associada bebedeiras, seqüelas irreversíveis a médio e longo prazos.
Ficar chapado nas festas, beber todas, beber, beber até cair... estas são algumas "habilidades" e "competências" sugeridas pela animada pedagogia da cerveja. Os programas de saúde pública condenam o abuso do álcool, e a mídia deixa transparecer que a bebida é fator de inclusão no mundo, caminho de auto-afirmação.
Na propaganda que o povo começou a chamar de "Brahmatouro", Ronaldo driblou o animal e abriu a garrafa no chifre do adversário vencido. Triste fenômeno! E ainda houve gente que só se lembrou de reivindicar mais respeito ao touro!
http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/a-pedagogia-da-cerveja-na-midia-conivente

Rede Estadual terá regime de dedicação integral

No ensino básico, professores não poderão acumular aulas em outras escolas; em contrapartida, receberão gratificação; modelo começa em 2012

Sábado, 14 de Outubro de 2011, 23h06 - Estadão.com.br
 
O governo do Estado de São Paulo vai criar um regime de dedicação integral para professores e diretores da rede de educação básica. Os docentes não poderão acumular aulas em outras escolas e, em contrapartida, receberão gratificação. O novo modelo será iniciado a partir de 2012 em 19 escolas espalhadas pelo Estado - onde haverá ampliação de carga horária, de seis para oito horas diárias, além da criação de disciplinas eletivas.
 
As iniciativas fazem parte de um programa de ações voltadas à melhoria da educação, que será anunciado hoje pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) e pelo secretário da Educação, Herman Voorwald. Serão anunciadas apenas ações referentes ao ensino médio. Em novembro, ocorrerá o anúncio de ações voltadas para o ensino fundamental - que passam por estudos e análises por equipes da secretaria. O foco será na recuperação do aprendizado.

No novo modelo de escola para alunos dos últimos anos da educação básica, além do aumento da carga horária, o plano é que haja integração entre as disciplinas do currículo. A mudança no regime do seus professores também é novidade. Não será uma carreira diferente, mas um regime diferenciado.

“Na mudança no regime de trabalho do professor, ele vai conhecer os alunos, identificar-se com eles e ser uma referência na escola. A ideia é incentivar uma carreira de 40 horas na mesma escola, porque muitos têm hoje jornadas de apenas 16 horas”, explica o diretor executivo da Fundação Lemann, Denis Mizne. A fundação foi uma das 21 organizações da sociedade civil envolvidas em educação que participaram dos debates e grupos de trabalho que antecederam a finalização e anúncio do programa.

O coordenador da ONG Parceiros da Educação, Jair Ribeiro, outra entidade envolvida, ressalta que o programa é ambicioso, mas possível. “A visão do projeto é posicionar o sistema de ensino de São Paulo entre os 25 melhores do mundo e transformar a carreira do professor entre as dez mais desejadas do Estado.”

O programa também prevê ação diferenciada para 1.206 unidades de ensino consideradas vulneráveis. Nesses locais, haverá prioridade na formação continuada de professores e projetos focados na recuperação do aprendizado dos alunos.

De bem. A nova política de educação do governo teve início com o anúncio do aumento salarial gradativo de 42,2% aos professores - em pouco mais de 20 anos, um professor pode alcançar um salário equivalente a R$ 9,3 mil. As medidas, entretanto, envolvem questões importantes para Alckmin: apaziguar os conflitos com os sindicatos da categoria, que tiveram uma relação desgastada com a gestão anterior, de José Serra (PSDB).


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Especial da Semana dos Professores: De onde vêm os professores?

Continuando com as postagens da Semana do Professor. Nesta semana postarei artigos escritos pelo professor Gabriel Perissé ao "Obseravtótio da Imprensa". Alguns desses artigos datam de anos atrás, mas com conteúdo bastante atual, o que nos mostra que há tempos são apontados os problemas e dificuldades enfrentados na educação desse país,  e que os avanços conquistados na área da educação tem se mostrado insuficientes no sentido de saná-los. Nessa semana em que se comemora o Dia do Professor é importante continuarmos nossa reflexão e luta constante por uma educação de qualidade nesse país.

Mirtes.

De onde vêm os professores?

Por Gabriel Perissé em 06/09/2005 na edição 345

Em recente entrevista à Folha Dirigida (Rio de Janeiro, 1/9/2005), o ministro da Educação Fernando Haddad lembrou que "não existe bom ensino fundamental sem professores formados nas universidades, nos vários cursos de licenciatura, Pedagogia e Normal Superior".
A pergunta dramática é se os estudantes que ingressam nestes cursos estão sendo devidamente formados, ou, mais dramaticamente ainda, se todos os professores universitários que lecionam nesses cursos estão aptos a transformar seus alunos em professores. De onde, afinal de contas, vêm os (bons) professores? Os professores que ministram suas aulas no nível superior foram, a seu tempo, orientados por bons mestres?
As perguntas incômodas, inoportunas, querem chegar ao ovo do qual nasceu a primeira galinha, ou à galinha que pôs o primeiro ovo. Quem ensinou quem a ensinar outro alguém a outro alguém ensinar? Basta um decreto? Basta o diploma? Bastam diretrizes, parâmetros?
Uma estudante universitária contou-me recentemente vários episódios que ela presencia diariamente numa tradicional faculdade paulista. Professor que joga pedaço de giz em aluno, professora que abusa de palavras "difíceis" para ocultar sua insegurança didática, professor que não tem hábito de leitura, professor que implica com aluno e ameaça puni-lo "na próxima vez que...", professora que troca o conteúdo da disciplina pela descrição de sua última e maravilhosa viagem à Índia...
Curiosidade, curiosidade...
Todos conhecem, felizmente, professores cujo talento e sensibilidade contrastam com a mediocridade consentida de muitos docentes. Acontece que sensibilidade e talento não são ensináveis. Existe manual infalível que ensine a ensinar? Dependeremos, então, da sorte para encontrar um professor à altura das nossas expectativas?
O relato da aluna universitária com quem falei não constitui uma reclamação isolada. Lamentavelmente, é um que representa milhares. Não se trata de fazer uma generalização indevida, pois de fato há, insisto, professores competentes, inesquecíveis, no ensino superior. Mas... serão inesquecíveis e competentes por que estudaram por sua vez em universidades cujo corpo docente sabia ensinar como ensinar?
A arte de ensinar é ensinável, sim, por contágio e inspiração, quando temos a oportunidade de conviver com mestres que encarnam o conhecimento e não simplesmente o transmitem.
Mais do que transmissores de idéias filosóficas, professores que filosofem conosco. Mais do que informadores de conteúdo previsto, professores que contextualizem tudo, e despertem a curiosidade insaciável. Mais do que cobradores de dados, textos, termos, acertos... professores que nos tornem repórteres atentos da realidade!

Prova do Mérito 2011 - Veja a nota de corte

Muitos leitores do blog tem perguntado qual foi a nota de corte da prova do mérito 2011. Saiu no Diário Oficial (na íntegra abaixo) , e a classificação de cada candidato estara disponível no sistema GDAE a partir do dia 13  de Outubro.
Mirtes

DOE – 11/10/2011 -  Poder Executivo - Seção I

EDUCAÇÃO


DEPARTAMENTO DE RECURSOS HUMANOS

PROMOÇÃO DOS INTEGRANTES DO QUADRO DO MAGISTÉRIO / 2011

COMUNICADO DO COORDENADOR Nº 10, DE 10/10/2011

O Coordenador da Coordenadoria de Gestão de Recursos Humanos da Secretaria de Estado da Educação, em conformidade com o disposto na Lei Complementar nº 1097, de 27 de outubro de 2009, regulamentada pelo Decreto nº 55.217, de 21 de dezembro de 2009, e de acordo com o Edital de Abertura de Inscrição para Prova - DOE de 11 de maio de 2011, comunica que foi publicada, no DOE de 30 de setembro de 2011 - Suplemento, a relação dos integrantes do Quadro do Magistério promovidos no processo/2011.
As notas da 1ª parte e da 2ª parte das provas foram somadas, obtendo-se a média aritmética, considerada como nota do candidato na prova, informações essas que se encontram disponíveis para consulta no site da Fundação Carlos Chagas
www.concursosfcc.com.br.O candidato aprovado poderá consultar, a partir 13/10/2011, a classificação obtida, via WEB, no sistema GDAE, utilizando o mesmo login e senha da inscrição, no link pertinente ao evento e seguir as orientações ali contidas.
De acordo com o item 37 do Edital de Convocação para Realização da Prova do processo de promoção/2011, publicado em 02/07/2011, havia previsão de recursos somente da parte objetiva da prova, para todos os campos de atuação, os quais
foram recebidos diretamente no site da Fundação Carlos Chagas.
Não havendo, portanto, previsão legal de recurso referente à parte dissertativa da prova.
Os servidores que atingiram o desempenho mínimo, previsto no artigo 5º da LC 1097/2009, foram classificados, de acordo com os critérios estabelecidos no artigo 6º da mesma lei:
1- Maior pontuação no processo de avaliação;
2- maior tempo de permanência na unida
3- maior pontuação na tabela de freqüência.
O desempate ocorreu pela maior idade do servidor, de acordo com o § 2º, artigo 9º do Decreto nº 55.217, de 22/12/2009.
Comunica, ainda, que de acordo com o § 4º do artigo 4º da Lei Complementar 1097/2009, foram promovidos os candidatos classificados dentro do limite de até 20% do contingente total de integrantes de cada uma das faixas das classes, existente na
abertura do processo de promoção, ou seja, maio/2011.
Destarte, apresentamos a nota de corte e a classificação do último candidato promovido, por classe:
Cargo                                             Nota             Última Classificação
Supervisor de Ensino                     8,15                232
Diretor de Escola                           8,00                664
Professor de Educação Básica I     6,09                8.760
Professor de Educação Básica II    6,00               26.618
Assistente de Diretor                      6,00                3
Coordenador pedagógico               6,60                1
Professor II                                     6,17                7
Os classificados com nota igual ou superior a 6 (seis) que não foram promovidos, não serão considerados remanescentes para o próximo processo de promoção, em conformidade com o Inciso II do artigo 9º da Lei Complementar nº 1.143, de
11/07/2011.


segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Especial da Semana dos professores: Apagão educacional - soluções não são simples

Nessa semana postarei artigos escritos pelo professor Gabriel Perissé ao "Obseravtótio da Imprensa". Alguns desses artigos datam de anos atrás, mas com conteúdo bastante atual, o que nos mostra que há tempos são apontados os problemas e dificuldades enfrentados na educação desse país , e que os avanços conquistados na área da educação tem se mostrado insuficientes no sentido de saná-los. Nessa semana em que se comemora o Dia do Professor  é importante continuarmos nossa reflexão e luta constante por uma educação de qualidade nesse país.

Mirtes. 

Crise vem de longe e soluções não são simples

Por Gabriel Perissé em 10/04/2007 na edição 428 - Observatório da Imprensa


Estava eu no aeroporto de Congonhas na inesquecível noite de sexta-feira, 30 de março, o da greve dos controladores de tráfego aéreo. Na fila confusa, sem que se soubesse o que iria realmente acontecer, uma senhora perguntou-me se eu era professor. Sou. Ela também. (Nas minhas mãos, um livro sobre pedagogia... tentando voar na leitura.)

Do apagão aéreo nossa conversa derivou para o apagão educacional. Contou-me a professora em que condições sua escola vive... ou morre: o giz não presta, o apagador não apaga direito, carteiras quebradas, violência, indisciplina, diretora sem rumo, crianças cujos pais estão envolvidos com drogas, falta de perspectiva para professores e alunos.

– Não sei se o senhor é amigo de político – disse-me a professora, que pretendia visitar os pais no Nordeste depois de 10 anos sem ir até lá – mas uma coisa eu aprendi: os políticos não são amigos da escola.

O vôo educacional reduzido a um cotidiano sem horizontes. Quem pode recorrer ao ensino pago ainda nutre esperanças (com a condição de que seus filhos recebam também vida familiar verdadeira, alimentação de qualidade, plano de saúde, acesso à cultura, à internet, idiomas, lazer etc.). Já aqueles que dependem do ensino público... esses sequer sabem onde fica o aeroporto.

O Pisa e o piso

Claudio de Moura Castro, em sua coluna na revista Veja (edição 2002), apresenta uma lista de indicações, uma receita de sucesso escolar. Segundo o economista, decola a escola cujo diretor tenha liderança, autonomia e seja constantemente avaliado. Decola se os professores forem valorizados, apoiados, guiados, estimulados e também avaliados. Decola se houver metas claras, se houver disciplina, se a família acompanhar as crianças. Decola se os professores "nunca ouviram falar nem nos autores nem nas teorias da moda pedagógica".

Nenhuma palavra do articulista sobre o contexto nacional e sua complexidade. O modelo está na Finlândia, e numa exceção localizada no Piauí (o Instituto Dom Barreto, em Teresina, com um projeto educacional de inspiração católica). Na Finlândia, os professores se orientam pelos critérios do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), e treinam seus alunos para se destacarem segundo esses critérios. A realidade brasileira, no Piauí e em São Paulo, é outra... – bem outra. Antes do Pisa, seria necessário falarmos sobre o piso salarial dos professores...

Dicas para gerenciar escolas são insuficientes. O apagão educacional vem de longe, e as soluções não são óbvias nem simples.